segunda-feira, 28 de abril de 2014

Série "Lendas do Skate" - Parte 7

Série “Lendas do Skate”

7ª parte


Chris Yandall – Morre um dos heróis do mundo do skate


RIP - 1954 + 2014





         A série Lendas do Skate tem como uma de suas premissas seguir uma certa ordem cronológica ou então manter conexão entre fatos para que os leitores possam ter uma breve, porém holística visão da história do skate no Brasil e no mundo. No entanto, alguns acontecimentos ocorrem no decorrer das publicações que acabam por desviar um pouco o foco principal. Assim ocorreu na 4ª parte da série, quando desviamos a linha de raciocínio para relatarmos a trajetória e falecimento de Hobie Alter. Desta vez, ao invés de falarmos sobre mais um campeonato histórico, o que seria a sequência natural de nossa série, discorreremos um pouco, infelizmente por conta de seu falecimento, sobre o lendário skatista samoano Chris Yandall. Quando nos deixou no último dia 19, aos sessenta anos de idade, vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), estava em San Diego, Califórnia.


         
Chris Yandall tinha como paixão original o downhill em alta velocidade e o slalom como sua principal categoria de competição durante a década de 1970. Suas conquistas mais conhecidas foram:






·         1º lugar - Campeonato de San Diego - P.B. Kate Sessions 1974
·         1º lugar - Campeonato Del Mar Nationals - Califórnia - 1975
·         1º lugar - Campeonato Mundial de Slalom - San Diego - 1975
·         1º lugar - Pumphouse Legends Race - 2007










    
         Além de ser um aficionado pela velocidade das ladeiras, Yandall também era um freestyler renomado. Ao longo de sua trajetória, criou várias manobras das quais podemos citar: spheelie, squat, samoa, skogging e a tradicionalíssima one foot skating. Suas manobras ainda são executadas atualmente.












       Além de ser imortalizado por títulos e invenção de manobras, Chris Yandall transcendeu o universo do skate quando o levou para a neve, criando o snowskate, na década de 1970. 




      Chris também era adepto do hábito de andar descalço o tempo todo, o que era mania entre  muitos skatistas e o rendia inúmeras escaras e machucados durante a prática do esporte. Outra característica impressionante de Chris era a técnica de concentração e relaxamento proveniente da Grécia que ele utilizava antes das competições e apresentações. Extremamente carismático e afável, era bem visto por todos no circuito californiano.









Além de uma linha própria de skates e acessórios, Chris Yandall tinha produtos licenciados com seu nome junto a empresas espalhadas por todo o mundo. Em 2012 foi incluído no seleto grupo de skatistas que compõem o Skateboarding Hall of Fame.




































segunda-feira, 21 de abril de 2014

Série "Lendas do Skate" - Parte 6

Série “Lendas do Skate”
6ª parte

- Competições Históricas -

I Campeonato Brasileiro de Skate



Nesta parte da série passaremos a abordar algumas competições memoráveis na história do skate brasileiro. O primeiro campeonato brasileiro de skate, realizado na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, em 23 e 24 de outubro de 1976, abrangia as categorias freestyle, slalom e mini-rampa e já preconizava a popularidade que o esporte vinha alcançando país afora. Foram mais de trezentos skatistas inscritos provenientes do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Brasília. A capital do país, embora quase não seja citada em fontes de pesquisa e também não tenha sido mencionada na 3ª parte de nossa série, também foi um importante berço do skate brasileiro. 


Foi uma verdadeira invasão de jovens e famílias vindas de várias partes do Brasil que se aglomeraram nos jardins da Quinta da Boa Vista, cartão postal do Rio de Janeiro, para observar as ousadas manobras que desafiavam as leis da gravidade e inundavam de adrenalina as veias do público. Dos trezentos inscritos, apenas cinquenta chegaram à final. A nova modalidade esportiva já era uma febre, tanto que do total de inscritos dez eram meninas, o que era uma quebra de tabu para a época.


O “campeonato da quinta” como é comumente conhecido foi um divisor de águas na trajetória do skate no Brasil. O evento foi largamente comentado devido a matérias em publicações de circulação nacional, como Revista VEJA e Revista Manchete, e também pela cobertura jornalística realizada pelo renomado Jornal do Brasil e pela Revista Brasil Surf. A presença da mídia escrita veio a impulsionar ainda mais o crescimento do número de aficionados pela nova modalidade esportiva.


Os responsáveis pela coordenação do evento, Nelson Machado e Ricardo Meyer, respectivamente das equipes Waimea e RK Skateboards, ao organizarem o campeonato foram os pioneiros em dar forma ao esporte no que tange a organização institucional. Apesar dos poucos recursos que dispunham à época, conseguiram realizar um evento com patrocínios, regras seguindo os padrões americanos, postura profissional, cobertura jornalística, pouquíssimos incidentes e com muito rock’n’roll, estilo musical imprescindível num evento como aquele.

Marcelo Neiva na capa da revista "Esqueite"
Dentre os cinco primeiro colocados, Marcelo Neiva, do Rio de Janeiro, com apenas 12 anos de idade despontava como habilidoso skatista e vinha fazendo seu nome gradualmente na Zona Sul e cercanias. Logo após o campeonato ele viria a integrar uma das equipes mais célebres do skate carioca, a Surfcraft. O que não causou espanto foi o garoto Mário Raposo, à época com 14 anos de idade ter sido o campeão absoluto em todas as categorias. Apesar da pouca idade, Mário levava a coisa a sério e treinava por várias horas todos os dias no estacionamento da COBAL, no bairro Humaitá, o que o tornou um prodígio. Ele já tinha sido campeão no primeiro torneio de skate realizado no Brasil, na Feira da Providência em 1974, e também no campeonato do Clube Federal, na categoria jr.. Apesar da pouca idade, já era um veterano.


Mario Raposo


Classificação geral:

1.   Mário Raposo – Rio de Janeiro
2.   Peter Roger – Rio de Janeiro
3.  Marcelo Neiva – Rio de Janeiro
4.   Sidney Ishi – Niterói/RJ
5. Ronaldo Couto – Ribeirão Preto/SP








Após anos de dedicação ao skate e de ter ganhado inúmeros campeonatos em diversas categorias, Mário Raposo se formou em engenharia, se casou e, obra do acaso ou não, mora e trabalha em Carlsbad, na Califórnia, onde foi construída a primeira pista de skate do mundo. Mário ainda hoje anda de skate... e muito!!!


Mario Raposo e Quinzinho - dias atuais



Jornal Recreio da Barra - Série "Lendas do Skate" - Parte 5


Série “Lendas do Skate”
5ª parte





quarta-feira, 16 de abril de 2014

Série "Lendas do Skate" - Parte 5

Série “Lendas do Skate”
5ª parte

RJ e SP: Points, Pistas e Skateparks - Origens



Dando continuidade à série, não podemos deixar de fazer menção aos locais onde o esporte foi mais difundido em seu início. Em Nova Iguaçu, antes da construção da pista, os points onde os skatistas se reuniam eram as ladeiras do bairro K11 e posteriormente as ruas do recém-inaugurado bairro Esplanada, com seu asfalto novo, liso e livre de buracos e armadilhas. As ladeiras do bairro remetiam os skatistas à realidade californiana, o que era um sonho para qualquer praticante.

No Rio de Janeiro, um dos points mais conhecidos por aglutinar skatistas da Zona Sul eram as Ruas Maria Angélica e Araucária, localizadas no bairro Jardim Botânico. A primeira, no início era uma ladeira pavimentada por paralelepípedos (o que forçava a molecada a andar de skate somente pelas calçadas), mas que posteriormente foi asfaltada. A segunda, depois de pavimentada com asfalto formou com a Maria Angélica um circuito onde os skatistas já desciam as ladeiras não pelas calçadas, mas sim pelo meio da rua, desenvolvendo e aprimorando suas técnicas e esboçando o que um dia viria a ser o downhill.

Após a construção da pista de Nova Iguaçu, outras foram instaladas na região metropolitana da cidade, a exemplo das lendárias e até hoje existentes pistas de Jacarepaguá e Campo Grande. Apesar da importância das pistas aqui citadas, o descaso dos governos com espaços públicos de lazer, praças e quadras esportivas, é flagrante. Um exemplo é o estado de abandono em que se encontra a praça que abriga a pista de skate de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Isso apesar de ainda ser muito frequentada por famílias e pelos jovens e também servir de cenário para inúmeras atividades culturais e esportivas, como hip-hop, capoeira, slackline, além de patins, bmx e skate.


O desenvolvimento do skate no RJ e SP


Dois fatores distintos favoreceram o crescimento do skate no Rio de Janeiro e em São Paulo. No Rio, pelo fato da capital e zona sul serem litorâneas e pela proximidade da região metropolitana ao mar, a maioria dos skatistas eram surfistas, o que propiciava o desenvolvimento dos praticantes e aprimoramento de manobras. Em contrapartida não existia uma política governamental e interesse da iniciativa privada em investir em espaços próprios para a prática do esporte.

Em São Paulo o contrário acontecia. A capital e a região metropolitana ficam distantes do litoral e isso tornava o skate uma forma de entretenimento para os jovens. Empresários paulistanos e entusiastas enxergaram naquilo sinônimo de oportunidade para alavancar novos negócios. A Wavepark, localizada no centro de SP e inaugurada em 1977, foi o primeiro skatepark privado do Brasil, que seguia padrões norte-americanos de construção e traçado e primava pela segurança – todos os frequentadores, mesmo sendo pagantes, tinham que usar equipamento de proteção completo. A Wavepark foi desativada em 1981.

 Outro skatepark que merece destaque é a Franete, localizado no bairro da Moóca e que foi construída no estilo backyard, pois ficava situada dentro do terreno da Franete Surf Shop.


A pista de Alphaville foi a primeira pista pública a ser construída em São Paulo e também a primeira a apresentar o traçado snake run, o que à época era uma total inovação. Pelo rápido e maciço investimento que tanto o segmento público como o privado fizeram no esporte, skatistas de todo o país migravam para as pistas e skateparks paulistanos buscando as melhores condições para desenvolver suas técnicas.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Série "Lendas do Skate" - Parte 4

Série “Lendas do Skate”
4ª parte


Hobie Alter e seu legado nos mundos do skate, surf e vela
RIP - 1933 + 2014


É com pesar que inicio o post informando sobre a morte de Hobie Alter, aos 80 anos de idade, no sábado passado (29/03/14), após uma luta de anos contra o câncer. Engenheiro autodidata e visionário, ele foi um dos maiores inventores e empresários no mundo do skate, surf e náutica à vela. Como foi citado na 1ª parte desta série, a Hobie Skateboards foi durante a década de 60 uma das principais marcas de skates e acessórios dos Estados Unidos. Além de comercializar produtos, sua equipe formada por Ray Flores, Cris Dawsons, Skeeter Bebe e Tom Walfer viajava pelo país participando de competições e eventos de demonstração para divulgação da marca e do esporte. Também primava pelo pioneirismo – era a única equipe que tinha três meninas como integrantes: Sue Rowland, Collen Boyd e Windy Bear.

         Uma das marcas inesquecíveis que Hobie deixou no mundo do skate foi a utilização da fibra de vidro como matéria-prima para a fabricação de shapes. Batizado de “Super Surfer” o shape possuia maior aderência e representava uma inovação tecnológica sem precedentes, tanto que foi destaque “Wide World of Sports” no Campeonato Mundial de Skate de 1965, realizado na Califórnia. Hobie continuou investindo na indústria do skate até a década de 1980, sempre buscando inovações.

O jovem, porém gênio visionário influenciou diretamente a mudança no estilo de vida californiano quando, em meados da década de 1950, juntamente com Dave Sweet e Gordon Clarke colocou no mercado uma nova prancha de surf feita de espuma de poliuretano. As pranchas ficaram 20% mais leves e puderam proporcionar aos surfistas um novo universo de manobras antes inimagináveis.



Hobie Alter 






Depois de ajudar a revolucionar os mundos do skate e do surf, no final da década de 1960, Hobie veio com uma nova invenção proveniente de sua paixão original: a náutica. Ele lançou o Hobie Cat, catamarã pequeno, de fácil manuseio, alto desempenho e que poderia ser colocado na água em qualquer praia. Logo se tornou um best-seller e veio a popularizar a náutica à vela por todo o mundo.


O desenvolvimento do skate, seus estilos e evoluções tecnológicas

 Assim como em quase todos os esportes que se mantêm ao longo dos tempos, novos estilos foram surgindo dentro do skate e com eles novas demandas por equipamentos que atendessem aos diferentes níveis de dificuldade ou mesmo ao terreno onde os mesmos são praticados. Tudo começou com o freestyle e slalom, evoluindo para o bowlriding daí para o vertical, street, mega-rampa, longboard, downhill, stand-up e o freeboard, dentre outros estilos e categorias.

Nomes como Frank Nasworthy, que em 1972 inventou a roda de uretano e causou uma verdadeira revolução na história do skate com suas “Cadillac Wheels” (série “Lendas do Skate” – 2ª parte) e o próprio Hobie Alter, com seu shape de fibra de vidro, são nomes aqui já citados e imortalizados no mundo do skate. No entanto, muitos outros fazem parte desse hall de colaboradores que dedicaram suas vidas ao aprimoramento do esporte.

Rodney aos 12 anos, já patrocinado
Rodney Mullen é, indiscutivelmente, o maior campeão de freestyle de todos os tempos. Ele é o inventor da grande maioria de manobras da categoria até hoje praticadas e constantemente adaptadas. Apesar de ter um histórico de vida conturbado e polêmico, ele conseguiu sobrepor todos os obstáculos e se sagrar um dos maiores ícones do skate mundial. Foi campeão invicto por 33 competições consecutivas, perdendo apenas uma. Sua invencibilidade durou tanto tempo que ele mesmo quase acabou com as competições de freestyle, enfraquecendo seu próprio estilo e fortalecendo ainda mais o emergente estilo street, que vinha crescendo à época.

Ao final da década de 1980, faltando apenas um ano para concluir a faculdade de engenharia, Mullen passava por sérias dificuldades financeiras e de relacionamento familiar. Foi quando Steve Rocco o convidou para fundar a própria companhia de skate, a “World Industries”.


A paixão de Mullen pela modalidade na qual ainda é especialista é tão sanguínea, que desde a década de 1990 vem ajudando a desenvolver designs para shapes, acessórios e componentes e é considerado por muitos o inventor do shape moderno. Também é detentor de várias patentes, dentre elas, podemos citar o truck “Tensor”. Essa expertise em apontar direções na produção de equipamentos não foi adquirida somente com a prática, o que não seria pouca coisa. Mullen uniu a já adquirida experiência enquanto skatista mundialmente renomado com as teorias acadêmicas do quase formado engenheiro.




Rodney Mullen nos dias atuais





Série "Lendas do Skate" - Parte 3

Série “Lendas do Skate”
3ª parte





Sérgio China
Além de ser a primeira construída na América Latina, o grande diferencial da pista de Nova Iguaçu é que a idealização, concepção e impulsão do projeto para a implementação deste marco do esporte mundial não partiu do poder público, mas sim de um grupo de garotos iguaçuanos loucos por adrenalina e que viam naquele esporte um estilo de vida. Neste caso, em plena ditadura militar, a sociedade, representada por um grupo de jovens, ditou as regras ao governo, apontando suas demandas e exigindo a construção da pista. O grupo de então garotos - encabeçado pelo skatista Sérgio China, idealizador do projeto – que era formado por Quinzinho, Alemão, Shape, Hotio, Dilho, Maninho, Tinho, Buzina e Daniel, fazia incursões diárias e incansáveis à secretaria municipal de obras até que tudo fosse concluído. Isso sem saber que estavam deixando seus nomes eternizados na história do esporte mundial, haja vista a importância da pista e também pelo ineditismo do projeto.

Hotio, Sérgio China, Maninho, Quinzinho, Tinho, Buzina e Alemão na pré-estréia do doc "Praça do Skate - A Primeira da América Latina" - Julho de 2013 


Seguindo a nova tendência surgida nos EUA, a pista de Nova Iguaçu trazia aos skatistas o conceito do “bowlriding” que era inspirado nos praticantes californianos que andavam em piscinas drenadas. Esse novo estilo fora descoberto devido a um longo período de estiagem que ocorreu na costa oeste dos EUA na primeira metade da década de 1970 e o uso das piscinas, consequentemente, e o gasto excessivo de água era desestimulado pelas autoridades locais por questões de racionamento. Os Z boys encontraram ali mais uma arena para deslizar com suas rodas de uretano e criaram mais uma nova tendência.


No cenário histórico brasileiro encontramos peculiaridades que se assemelham e até transcendem aos acontecimentos estadunidenses. O movimento veio a impulsionar setores da economia brasileira junto à indústria, comércio e construção civil, gerando empregos diretos e indiretos, além de incrementar o setor de entretenimento. A instalação de fábricas de skates e equipamentos, como Torlay, Vórtex, Bandeirante e RK – a construção de diversas pistas e “skateparks” por todo o Brasil - a formação de equipes, a exemplo das até hoje lembradas Surfcraft e Waimea, no Rio de Janeiro e Costa Norte e DM, em São Paulo - a organização de campeonatos e eventos de exibição e também muitos outros acontecimentos deixaram marca indelével na história do esporte brasileiro e também do esporte mundial.

No nixo que se formou no Rio de Janeiro, podemos citar skatistas talentosos que são reverenciados até os dias atuais, como Mário Raposo, que foi o primeiro campeão brasileiro de Freestyle no campeonato realizado na Quinta da Boa Vista, em 1976 - os irmãos Luizito e Marcelo Neiva, detentores de diversos títulos - Cesinha Chaves, que era um jovem visionário e formou sua própria equipe, a Surfcraft, e também organizou o primeiro campeonato brasileiro em pista realizado em Nova Iguaçu no ano de 1977 - Quinzinho, detentor de diversos títulos e que durante toda a década de 1970 figurou entre os oito melhores skatistas do país – Maninho, primeiro campeão brasileiro em pista - Flávio Badenes, primeiro campeão carioca Freestyle – Alexandre Calmon “gordo” – Luis de Jesus “come rato” - Marcelo Bruxa - dentre muitos outros.

Quinzinho

Além do Rio de Janeiro, o skate no Brasil teve outros “berços”, como São Paulo, onde, juntamente com o Rio, o esporte teve seu início, e Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que também tiveram grande importância na difusão da então nova modalidade esportiva.

Série "Lendas do Skate" - Parte 2

Série “Lendas do Skate”
2ª parte




A Zephyr Skateboard Team era formada por Shogo Kubo, Bob Biniak, Nathan Pratt, Jim "Red Dog" Muir, Allen Sarlo, Chris Cahill, Paul Constantineau, Peggy Oki (a única menina da equipe), Wentzle Ruml, o polêmico Jay Adams e os já imortalizados Tony Alva e Stacy Peralta. Eram doze jovens com personalidades e temperamentos distintos, porém todos com espírito rebelde e que tinham atitudes radicais em seu cotidiano.





      Uma verdadeira revolução na história do skate ocorreu no ano de 1972, quando o surfista da costa leste e técnólogo em química, Frank Nasworthy, inventou a roda de uretano, material composto à base de petróleo. O Uretano permitia que as rodas aderissem mais ao solo, proporcionando, desta forma, manobras mais ousadas. A equipe Zephyr radicalizou o esporte com manobras na modalidade estilo livre baseadas nos movimentos do surfista havaiano Larry Bertelman, que colocava as mãos nas ondas para facilitar as manobras.


Enquanto outras equipes se preocupavam em "adornar" seus patrocinados nas competições para fazer publicidade de seus produtos, os donos da Zephyr vestiam seus integrantes apenas com jeans Levi's e t-shirt com a logomarca, adotando uma atitude completamente anticomercial. A única preocupação era radicalizar e mostrar ao mundo uma nova forma de andar de skate com manobras baseadas no surf.

Devido à falta de planejamento e uma administração condizente com o sucesso que a empresa vinha alcançando, a Zephyr não demorou a perder os membros de sua equipe para os concorrentes e veio a fechar as portas tempos depois. Atualmente, alguns dos Z-boys ainda atuam no mundo do skate como Jim Muir, que tem uma fábrica de shapes; Tony Alva, que logo depois que saiu da equipe montou sua própria empresa e tem uma loja até hoje em Santa Monica e Stacy Peralta, que montou junto com George Powell, em 1979, uma companhia de skate (Powell/Peralta) com equipe própria, depois virou  produtor e diretor de filmes e documentários sobre o tema.



EUA e Brasil. Histórias paralelas no ressurgimento do skate


Com o desenvolvimento do skate no Brasil ao longo das quatro últimas décadas, pudemos observar um crescente interesse pelo esporte, independentemente do gênero, idade ou classe social dos praticantes. Vários talentos despontaram com o passar dos anos e hoje figuramos entre as maiores potências no mundo do skate. Há correntes distintas que dissertam sobre teorias acerca do fato de o Brasil ser, atualmente, a maior potência no esporte, rivalizando diretamente com os EUA, país onde o esporte foi criado. Atletas como Bob Burnquist, que ostenta títulos mundiais em diversas categorias, o hexacampeão mundial Sandro Dias “Mineirinho”, Edgar Pereira “Vovô”, Kamau, Lincoln Ueda, Marcelo Bastos, o atual campeão mundial Pedro Barros, Rony Gomes, Sérgio Negão, dentre outros, são exemplos do potencial do Brasil. A ala feminina também está bem representada por Karen Jonz, campeã mundial em 2013 no vertical e Letícia Bufoni no street, dentre outras atletas com enorme potencial.

         Paralelamente ao fenômeno do ressurgimento do skate nos EUA no começo da década de 1970, no Brasil, desde o final da década de 1960, alguns jovens já fabricavam skates caseiros a exemplo do que faziam os norte-americanos.

    O Rio de Janeiro, mais precisamente a cidade de Nova Iguaçu, foi o principal palco para esse paralelo histórico. Lá foi construída, em dezembro de 1976, a primeira pista de skate da América Latina, o que veio a impulsionar o esporte ainda mais entre os jovens. Na praça onde se localiza a pista, à época de sua construção, aglutinavam-se jovens de todo o Rio de Janeiro, principalmente vindos de bairros da Zona Sul e também de vários outros estados que vinham em busca da única pista existente em todo o país.

         A contemporaneidade do Brasil em relação aos EUA é historicamente comprovada pelo fato de a primeira pista de skate a ser construída pelos norte-americanos ter ocorrido em março de 1976, em Carlsbad, na Califórnia, enquanto que a construção da pista de Nova Iguaçu foi concluída em dezembro do mesmo ano, ou seja, apenas meses de diferença.